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Preço e Apreço

por Milton Avelar de Carvalho*

“A amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro”.
Renato Teixeira

    Qual é o preço de uma amizade? Essa é uma pergunta que muitos se esforçaram para responder.


    Busquei, nos escritos que pude encontrar, aquela que seria a melhor resposta, e cheguei à conclusão de que todos usam frases feitas e clichês para definir suas concepções de amizade. Meio desanimado, percebi que dificilmente conseguiria falar de amizade sem cair no lugar-comum e ter meu texto parecido com a redação de um aluno do ensino fundamental. Pensei em desistir, mas lembrei-me que meu intuito não era louvar a amizade, e sim a um amigo.
 

    Quantos amigos temos durante nossas vidas? Infinitos, já que, quem não é inimigo é amigo.
 

    Existem pessoas que olhamos e desgostamos de cara; outras que gostamos e fazem parte das amizades superficiais; e existem aqueles com quem nossas almas combinam de imediato, de quem gostamos “de graça” e sem restrições.
 

    Passamos a ter um amigo, porém, só temos um amigo de verdade, quando a recíproca é verdadeira. Só sentimos que realmente temos um amigo, quando percebemos que o sentimento dele em relação a nós está no mesmo nível do nosso respeito.
 

    Quando pensei nisso, percebi que a amizade não se mede pelo preço – já que, dizem os ditos populares, ela não o tem – mas pelo apreço. Não há valor pecuniário na amizade, por isso não é possível medi-lo; seu valor não é externo, como o preço que se atribui a um objeto, mas intrínseco, e não pode ser medido por quem está de fora; apenas por aqueles que vivem a amizade e sabem o valor do apreço mútuo.
 

    Todo esse rodeio foi para falar de um amigo, um irmão, que a vida - não sei se por acaso, por destino ou providência – colocou em meu caminho, por força de afinidade.
 

    Como era inevitável, um dia fui apresentado ao marido de minha sobrinha. As boas almas se fazem reconhecer e se apresentam àqueles que podem vê-las. Gostei, “de cara e de graça”, da figura que se apresentou diante de mim. Não pela aparência física, mas pelo jeito tranquilo, a fala baixa e bem modulada, os modos educados que demonstravam respeito por quem quer que fosse. 
 

    Não se engane em pensar que seus movimentos lentos e seu falar calmo são resultados de pachorra ou indolência. São eles, na verdade, qualidade de quem alcançou sabedoria. Estado de quem sabe usar seu espaço; de quem sabe ouvir, ponderar e falar com propriedade.
 

    Esse é meu amigo Angelim. Uma alma leve, que transmite paz, calma e que devolve o bem, em paga do mal. Se você já “passeou” pelo seu Sítio e leu seus escritos, deve ter uma noção do que estou falando.
 

    Em outra dessas visitas, descobri outro lado seu, que ainda não conhecia: o Violeiro!
 

    O home pinica uma viola como ninguém!
 

    Meu saudoso pai, embora longe de ser um virtuose, gostava demais de tocar um violão, reunir a família e cantar. Era o que de melhor havia no mundo. A alma ficava radiante, quando sabia que iria encontrar o restante da família. O ponto alto era sentar, todos, em volta do patriarca e ouvir as “moda”. “Tinha umas bunita, outras dilurida”, mas, independente do estilo, a felicidade era completa.
 

    Essa convivência fez com que tomássemos gosto pelas “canturias”. Tanto que alguns dos meus irmãos tornaram-se profissionais. Eu, no entanto, emprestei a eles meu talento e fiquei só com o gostar. Mas é um gostar tão grande, que até dói.
 

    Quando, depois de debulhar a viola nos solos, Angelim resolveu cantar, me aproximei e comecei a atrapalhar o coitado, tentando fazer uns duetos. Foram poucas as vezes que estivemos juntos, em roda de viola, mas foram momentos de muita alegria para todos.
 

    Apesar dos encontros espaçados, a amizade e o respeito de toda a família foi uma coisa que o “chegante” conquistou sem esforço.
 

    Tinha-o na conta de um bom amigo, uma companhia agradável e um bom violeiro. Meu respeito e meu apreço chegaram ao ápice, quando vi, em declarações que ele fez a respeito de meus irmãos, o grande apreço que ele tinha por minha família.
 

    Há poucos dias, fiquei sabendo da existência do Sítio do Angelim. Assim que tive um computador nas mãos, e tempo, comecei a escarafunchar o site. Depois de ler os bons textos, ouvir as boas modas e ler as curiosidades que ele, magistralmente, colocou à nossa disposição, resolvi dar uma olhada nas fotos.
 

    Comecei a olhar as fotos do arquivo onde se lia “amigos” e, depois de ver um punhado de violeiros da elite brasileira, dei de cara com uma figura “malacabada”, que estava ao lado do cumpade Angelim, enquanto este tocava sua abençoada viola. Reparei bem, esfreguei os olhos e, usando meu dom de poliglota, em bom mineirês-goianês, exclamei: “Mais esse é ieu, uai”! “Num há de vê que era memo”!
 

    Depois de olhar a foto, deixei os olhos descerem até os dizeres que estavam abaixo. Tive, então, a prova definitiva do apreço que meu irmão Angelim tinha por minha pessoa. Depois de citar meu nome, ele começava os dizeres com as palavras: “um irmão cantador...”. Não sei se fiquei mais lisonjeado com o “irmão” ou com o “cantador”; justo eu, que perdi a fila do talento, fiquei só na do gosto.
 

    O restante da frase mexeu ainda mais comigo; dizia: “...que ganhei de presente de casamento”.
 

    Creio que não preciso dizer mais nada. Espero, apenas, que possa retribuir, na medida justa, a amizade e o apreço sem preço que pude perceber no irmão Angelim.
 

    Que venham as violas e as cantorias!

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*Milton Avelar de Carvalho é Poeta, Escritor, Músico e companheiro de inesquecíveis cantorias..

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