Aconteceu por aqui, num dia que o vento que move a vida soprou com tanta força, que a porteira do sítio bateu forte, travou a tramela e se fechou.
E foi dia e foi noite, foi tarde e foi cedo. Passava tudo. Passava nada.
Tem vezes que parece que a gente para dentro do tempo. Enquanto a valsa da vida continua, a gente permanece congelado dentro do mesmo segundo, dentro daquele instante que chegou com tanta força que tomou a vida só pra ele.
O silêncio era dono do sítio. Até o riacho passava sem fazer barulho, molhado pelas lágrimas da saudade.
Perdi as contas de quantas vezes a sabiá pousou na minha janela e não cantou. Suspiro de sabiá é muito triste. Difícil por demais aprender a conviver com isso.
Mas sô, saci me disse que a vida continua. Que ela não tem fim. Creia.
O danado só não tinha me contado que tem gente que passa pra outra margem do rio muito cedo. Ah!
Mas o tempo é o senhor da vida e não passa em vão. Acredite crendo. Cada amanhecer que chega traz um pouquinho de entendimento e paz.
E assim foi e assim segue sendo. Aos poucos a gente vai aprendendo a conviver com o vazio. Trem difícil.
Pedi licença ao tempo pra voltar a seguir o curso das horas. Como Ele é bom. Montei no Valente, cavalo companheiro, que entende sempre que passo tem que dar. Fui lá, destravei a tramela do sítio e reabri a porteira. Viola ainda está empoeirada e sem corda. Mas cada coisa de uma vez. Cada passo no seu momento. Cada passo na hora certa.
Final do dia sento daqui, na margem do meu lado do rio e fico olhando pro lado de lá. Enquanto as luzes do crepúsculo vão chegando, fico tecendo lembrança e acalmando o coração.
Paz e bem!
Té.
Biservação: Essa imagem é de um quadro chamado “A Velha Porteira”, do Seo Rui de Paula, que pra mim, é o maior artista pintador das belezas do campo. Visita ele lá no sítio dele, sô. É vizinho aqui do Sítio do Angelim. Fica ali no Instagram @rui.depaula.3 logo depois da curva do rio.
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