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Foto do escritorAngelim .

Carro-de-boi


Postado por Angelim em 01/04/2007


No dia de ontem eu fui lá pra cidade. Tinha que fazê as compra e gosto muito dum armazém que só pra lá que tem. A venda aqui do lado é limitada e nos final de mês nunca tem de tudo. Como é bom. Até o chero daquele lugar é diferente. É uma mistura de chero de fumo e feijão, que enche o ar todo. Muito mais mió pra escolhê as coisa, arroz, feijão, tudo nos saco de estopa pra ocê mesmo pegá e medi o peso.


Na chegada tive nas minhas vista a imagem de um carro-de-boi, que já fazia muitos mês que num via mais. Tinha um sinhô em cima, pras base duns sessenta ano e outro sinhô na ponta carreano, mais ou menos da mesma idade. Gente nova num faz isso mais não.


Que sentimento de sôdade dos tempo de antes, onde os armazém como o do seu Del Ducca me fazia fantasiá a vida. Me lembro dos balêro, com as bala colorida, rangendo que até doía, mas quando parava na bala certa trazia alegria pra meninada. Tenho a lembrança do chero daquele lugar até hoje. Ficava na esquina, pertinho do sobrado da minha vó. Naquele tempo carro-de-boi era visto fácil. Num se passava mais de uma estação sem vê um pelos menos.


Fico sentido com as coisa. Sei que a mudernage caminha pra ajudá, mas vejo minhas terra perdendo mais do que história. Vejo a perda da cultura. Hoje não se caça mais Saci, se brinca de furá abróba pra imita os gringo, não se canta mais Chico Mineiro, nem Cabocla Tereza, mas as música que vem de fora e nada tem com nossa terra.


Eu acho que tem muita coisa boa pros mundo distante, pras terra longe daqui, mas isso num pode serví de desculpa pra perdê nossa raiz. Árvore sem raiz é árvore morta e nessa onda da mudernage vamo perdendo identidade.


Enquanto isso eu fico daqui tocando minha viola. Vai que um dia alguém escuta e acha bonito, resolve tocá também, mostra pra outro, esse aprecêia, fala com o vizinho, que passa a escutá também. Tenho fé que um dia as coisa muda. Temo muita buniteza nesse chão nosso de cada dia. Eu ainda tenho um Saci que cacei quando era minino. Ocês acredita que ele num envelhece? Pois é verdade.


Um dia conto do Saci pr’ocêis. Num é difícil caçá não. Ontem mesmo sei que um apareceu aqui por perto. Minha viola tava toda desafinada. Ele que bobêia que eu caço ele também. Ah se caço!!


Té!

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